quarta-feira, 17 de junho de 2009

O que vamos ganhar com o juro baixo

Mais casas para os brasileiros. Melhores oportunidades de consumo. Mais obras de infraestrutura. Por que o Brasil está prestes a dar um salto de qualidade comparável ao do Plano Real - e o que precisamos fazer para não perder essa oportunidade

No momento em que você lê esta reportagem, o Brasil já vive um novo marco de sua história econômica. O país, que no passado recente venceu a hiperinflação, privatizou boa parte do surrado aparato de estatais e extinguiu o protecionismo exacerbado, começa agora a dar um novo salto qualitativo na economia. Pela primeira vez desde o Plano Real, a taxa básica de juro, a Selic, atingiu o patamar de 1 dígito. É o custo do dinheiro mais baixo da história de um país em que já foi necessário pagar mais de 400 000% ao ano para tomar um empréstimo bancário ou financiar a compra de um equipamento industrial. As cifras eram uma abstração. Na prática, por muito tempo, o crédito simplesmente não existiu para os brasileiros. Não se trata - ainda - de um patamar semelhante ao das economias desenvolvidas, no qual os juros atualmente são até negativos. Ainda assim, o cenário que se descortina é inédito. Nunca estivemos tão perto de entrar para o grupo de países modernos.

Em perspectiva histórica, vê-se que estão sendo retiradas, uma a uma, todas as anomalias acumuladas ao longo de décadas. A bola da vez são os juros altos. "O Brasil de hoje é muito diferente de quando tínhamos inflação alta e contas públicas desreguladas", diz o ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Com a queda dos juros, vamos eliminar uma das últimas disfunções da economia e caminhar para a normalidade."

A frase resume o ânimo dos quase 50 economistas, empresários, analistas de bancos de investimento e membros do governo ouvidos por EXAME nas últimas quatro semanas. O sentimento geral é de que, ao diminuir os juros, o Brasil pode fomentar uma expansão nunca vista no volume de crédito disponível para pessoas e empresas, destravando o crescimento de segmentos com enorme efeito irradiador na economia. As mudanças serão particularmente visíveis em quatro áreas - mercado de capitais, setor imobiliário, infraestrutura e varejo. Alguns números dão ideia da avenida que se abre para o Brasil. No mercado imobiliário, provavelmente o setor em que há a maior expectativa com o novo cenário, mais de 30 milhões de moradias podem vir a ser construídas nos próximos 20 anos - um ritmo anual cinco vezes superior ao de 2008. "A gente dorme e acorda pensando em como aproveitar a queda dos juros", diz Luis Largman, diretor financeiro da construtora Cyrela. No campo da infraestrutura, os recursos para obras de estradas, ferrovias, hidrelétricas e portos devem alcançar 90 bilhões de reais em 2012, depois de ter descido quase a zero em alguns anos da década de 90. Ao longo dos próximos quatro anos, pelo menos 160 bilhões de dólares a mais devem ser aplicados na bolsa de valores - capital que em boa parte irá para o caixa das empresas e lhes dará mais fôlego para investir. Com juros mais baixos, o volume de crédito disponível deve aumentar na economia como um todo, provocando acréscimo de até 1 trilhão de reais na oferta de recursos a empresas e pessoas dentro de três anos. Mais crédito deve levar a mais consumo, o que pode transformar também o modelo de negócios das redes varejistas e fazer toda a economia crescer. A consultoria LCA estima que uma redução de 2 pontos no juro real signifique estímulo adicional de até 1,5 ponto percentual para o produto interno bruto. "Com o juro real caindo para 5%, como se espera, o potencial de crescimento da economia brasileira sobe de 4% para 5,5% ao ano", diz Bráulio Borges, economista-chefe da LCA.

Por Malu Gaspar | 11/06/2009

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